sexta-feira, 13 de junho de 2014

O Coração de Jesus (I)

Caros amigos, começamos hoje uma série de textos sobre o Sagrado Coração de Jesus. Neste primeiro artigo veremos o que o Antigo Testamento nos ensina sobre a palavra coração.
No hebraico o termo usado é “lebh” ou “lebhabh” (860 vezes no Antigo Testamento) é muito maior do que o significado fisiológico, pois, não só designa a sede das emoções e da afetividade, mas também a da inteligência e dos pensamentos. É ainda a fonte das recordações e da memória; por último, é o centro dos projetos e das decisões transcendentes e da consciência moral. Ou seja, o que nos dias atuais atribuímos ao cérebro, o judeu entendia como coração. É assim que devemos entender: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno” (Dt6,4-6); ou ainda: “Farei com eles uma aliança duradoura: nunca deixarei de abençoá-los e dentro deles colocarei o meu temor, para que de mim jamais se afastem. Minha alegria será fazê-los felizes, plantá-los de maneira estável nesta terra, de todo o meu coração, com toda a minha alma”(Jr 32,40-41).
Quando a Bíblia fala de coração de Deus a principal ideia é retratar o amor de Deus por nós como nosso Pai. Assim o impulso de amar a seus filhos é algo que vem do mais profundo de Seu Ser. Exemplo disso é o capítulo onze do livro de Oséias. Este livro foi escrito para lembrar aos israelitas de que o nosso Deus é um Deus amoroso, cuja lealdade ao povo de sua aliança é eterna, pois, embora Israel tenha continuado a recorrer a falsos deuses, o amor inabalável de Deus é retratado como de um marido fiel e sofredor diante de uma esposa infiel e indiferente: “Com efeito, nos escritos deste profeta, que entre os profetas menores sobressai pela profundeza de conceitos e pela concisão da linguagem, Deus é descrito amando o seu povo escolhido com um amor justo e cheio de santa solicitude, qual é o amor de um pai cheio de misericórdia e de amor, ou de um esposo ferido na sua honra. É um amor que, longe de decair e de cessar à vista de monstruosas infidelidades e pérfidas traições, castiga-os, sim, como eles merecem, mas não para os repudiar e os abandonar a si mesmos, mas só com o fim de limpar, de purificar a esposa afastada e infiel e os filhos ingratos, para tornar a uni-los novamente consigo uma vez renovados e confirmados os vínculos de amor” (Papa Pio XII, Carta Encíclica Haurietis Aquas, §15).
Em relação ao coração do homem é notório um texto de Ezequiel: “Eu vos darei um coração novo e porei em vós um espírito novo. Removerei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26). Quem se recusa continuamente a ouvir a Palavra de Deus e a se abrir às moções do Espírito Santo corre o sério risco de ter um coração endurecido. O principal exemplo bíblico desse fato é o coração de Faraó (cf. Ex 7,3). A solução de Deus para um coração endurecido será dada por Ele mesmo: pela Encarnação do Verbo e pela vida nova no Espírito Santo. Em Jesus e pelo Espírito recebemos um novo coração e um novo ser completamente de Deus e para Deus.
No próximo texto veremos sobre o coração no Novo Testamento.
Padre Enéas de Camargo Bête

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